Relato das educadoras de Paty de Alaferes – RJ:
- teiadesaberessite
- 27 de out. de 2023
- 3 min de leitura
Quando iniciamos na Escola da Aldeia, não tínhamos ideia de como seria essa nova experiência. Um novo projeto surgia, com uma abordagem totalmente diferente da que estávamos acostumadas, da qual nunca ouvimos falar, mas iniciamos com muita força de vontade e o desejo enorme de aprender e colocar em prática essa nova descoberta. Como descreve Malaguzzi, “Aprender e reaprender com as crianças é a nossa linha de trabalho.”
Com a equipe da Teia de Saberes iniciamos os estudos sobre a abordagem de Réggio Emília e fomos descobrindo não só com a teoria, mas também, na prática, uma nova forma de ensinar. Isso tem sido um grande desafio, pois acostumados com plano de curso, planejamentos, conteúdos programáticos e calendário anual já preestabelecidos, foi necessário reformular a nossa metodologia de trabalho e construir o projeto segundo as necessidades e curiosidade exploratória da nossa turma. E com isso a ansiedade foi tomando conta de nós, pois numa escola regular de ensino já temos tudo pronto e planejado. Nestes ambientes tradicionais o tempo é ditado pelo professor e pelas redes de ensino, onde buscamos, a cada bimestre buscamos avaliar a aprendizagem e classificar nossos alunos.
Iniciamos na Escola Inovadora da Aldeia já com um projeto pronto criado pela direção e professores que ali já estavam cujo tema era: “TUDO SOBRE NÓS.” Na primeira semana nos apresentamos, conversamos sobre a escola, montamos a rotina da sala e os combinados. Observamos nossas diferenças físicas, testamos as habilidades e trabalhamos o livro: “E você, tem cara de quê?” De uma forma bem lúdica e divertida. Fizemos atividade de reconhecimento de si através de espelho e foi genial, algumas crianças ficaram surpresas ao se olharem no espelho, outras envergonhadas e até acharam seus rostos engraçados. A cena mais engraçada foi a do Benjamim que levou um susto quando se viu no espelho e depois de entender o que estava acontecendo, achou super engraçado, abrindo e fechando a boca, mostrando a língua, enfim, foi o máximo esse dia. Depois de se verem bastante no espelho, eles produziram seu autorretrato, outra atividade que nos surpreendeu bastante, pois alguns ficaram bem parecidos.
No decorrer do processo, segundo o interesse da turma, estendemos o projeto por mais alguns dias e a área de interesse foi: “Os órgãos dos sentidos”. O tema foi trabalhado com muita música, jogos, rodas de conversa, experimentação e brincadeiras, construção de imagens e objetos. Testamos todos os sentidos através da investigação, curiosidades e experiências vivenciadas por nós professoras e pelos alunos. E foi muito interessante a forma como se deu os interesses vindos dos alunos.
Um certo dia, quando estávamos apresentando o tema ‘Visão’, preparamos uma aula bem divertida e investigativa, com binóculos coloridos confeccionados com materiais recicláveis, levamos também tapa olhos para brincar de cabra-cega, tudo foi pensado acreditando que os interesses seriam os mesmos do que planejamos e para nossa surpresa, eles foram muito mais além, nos mostrando riquezas de detalhes e de possibilidades que de início nos deixaram desconcertadas, pois pela primeira vez estávamos sendo conduzidas por eles, mas no decorrer das atividades começamos a entender o quanto de significado aquela aula estava sendo para eles e fomos aproveitando cada fala, cada descoberta, cada gesto, para conduzir essa aprendizagem significativa e prazerosa. Que dia maravilhoso, observaram e exploraram todos os espaços da escola, acharam um buraco e questionaram qual seria o animal que morava lá. Observaram algumas pedras, seus tamanhos e formas; descobriram um lugar onde puderam brincar de se equilibrar, uma moita de folhas onde puderam se esconder, enfim, foi um dia em que mais aprendemos do que ensinamos.
Com isso, foi surgindo o medo, a angústia e as perguntas que nos fizeram questionar se realmente estamos no caminho certo e se realmente conseguiremos ter esse olhar minucioso e a escuta atenta e amorosa tão necessária para encontrar o caminho dessa nova aprendizagem. E foi surpreendente como tudo isso foi acontecendo de uma maneira tão espontânea e decisiva para a condução do nosso trabalho. Ainda estamos no começo deste novo e sonhado projeto que é transformar a escola em um lugar inovador que torna o aluno o ator principal da sua aprendizagem. Acreditamos que nesses três meses de trabalho as transformações já estão acontecendo, de uma maneira muito sutil, mas de resultados grandiosos.

Cintia S.Alexandria Costa e Silvia Maria da Cruz Chagas
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